sexta-feira, 20 de abril de 2012

Reunião familiar parte 3

 Cheguei de táxi numa chuva digna de um dilúvio. Sinal divino, alguns diriam, mas prefiro não pensar em nada disso. E eu não conseguia achar o dinheiro para pagar o taxista que soava e tinha cara de porco. "Mal chego e passo vexame", pensei logo. Mas aí achei a grana e percebi uma enorme quantidade de gente conhecida esperando na chuva para que abrissem o portão do fórum. Querido passado, vá para o inferno!
 Eram tias, tios, primos e primas, com alguns eu até falava e com outros eu nem fazia questão. Cumprimentei todos de forma rápida para evitar comentários, perguntas e chatices. Não encontrei a minha mãe, mas dei de cara logo com o meu pai. O cara fez muita merda, mas eu não sei odiá-lo de jeito algum. Fui correndo como uma menininha de 10 anos, abracei-o forte e ele bagunçou o meu cabelo. Perguntou se estava bem e o que eu achava dessa situação tão chata, nem respondi, continuei apertando o meu pai fazendo daquele lugar feio e frio um outro, só que mágico.
 Aquele momento de calmaria logo passou quando a Dona Carmem chegou com a filha Sônia, vamos esquecer essa coisa de mamãe, filhinha e irmãzinha, nunca me amaram, não tem porque eu ficar com essa doçura toda. Pareciam dois urubus, não era a cor da vestimenta, mas pela cara de fome na carcaça da minha vó. Eu comecei a soar frio, meu pai percebeu e disse baixinho "Keep calm, baby". Obedeci. É muito complicado tudo isso para mim, entende? Eu odeio muita gente e não tenho vergonha disso, mas eles não são sangue do meu sangue, ninguém me pariu; eu não me conformo com esse ódio da minha mãe. A minha irmã é uma burra que nem quis saber da minha versão nessa história toda. Burros só fazem burrices.
  Elas chegaram e as parentadas foram todas para o lado delas. Nojo daquele povo. Eles viram anos aquela mulher me agredindo e não fizeram nada, achavam que os erros do meu pai deveriam ser pagos por mim. Os parentes cochichavam olhando para o meu lado eu apostaria a minha alma que eles estavam falando o quão errada sou.
  Aquela tortura só me fez lembrar dos tempos de escola quando as menininhas, as patricinhas. Ficavam falando e apontando para mim como se eu fosse um ser de outro planeta. Elas tocavam na minha jaqueta cheia de rebites com uma cara de nojo, porque eu era um ser inferior. É impossível não lembrar disso.
  Tomei coragem e fui falar com elas, até diria que tomei burrice e fui falar com elas. Aquelas caras de nojo, aquele lugar tão estranho. Perguntei como ambas estavam e se o showzinho estava bom, minha mãe respondeu que só falaria comigo lá dentro.
 


Tem mais nos próximos capítulos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário